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Ruben Martins:

Um Pioneiro

Falar da obra de Ruben Martins é absolutamente necessário e contemporâneo. Seu trabalho, de qualidade e profundidade inegáveis, é de grande importância para a compreensão do design brasileiro e de seu momento histórico, ao lado das obras de Alexander Wollner e Aluísio Magalhães. Ruben Martins nasceu em São Paulo, em 1929, cidade na qual iniciou sua formação na arte acadêmica. Em meados de 1950 foi para Salvador, na Bahia, onde trabalhou como artista plástico. Ao lado de Caribé, Mario Cravo e Marcelo Grassman, entre outros artistas, formou o grupo que revitalizou as artes plásticas nacionais.

 

Em 1956, Ruben retornou a São Paulo. Trabalhou com Geraldo de Bar­ros na Unilabor, cooperativa fundada por padres dominicanos que agrupava designers e marceneiros. A atividade de Ruben Martins como designer teve início, em 1958, com a fundação da empresa Forminform. Considerada a mais antiga empresa de design no Brasil, foi criada em parceria com alguns dos nomes que se tornariam relevantes no cenário do design nacional: Alexandre Woll­ner e Geraldo de Barros, no início, e, na seqüência, contou com Karl Heinz Bergmiller, logo depois de sua chegada da Alemanha.

A obra de Ruben Martins recebeu influência tanto de sua experiência inicial como artista plástico quanto de seu trabalho como designer in­dustrial. Sua passagem pela Bahia é percebida nas formas, cores e na utilização de referências nacionais. No meio paulista, Ruben era conhecido como “baiano”, apesar de ser paulista. Em 1960, os sócios da Forminform se separaram, mas Ruben manteve o nome da empre­sa e seu trabalho assumiu direção e personalidade próprias.

Os anos pioneiros do design no país eram “tempos de catequese”. Um de seus primeiros trabalhos foi realizado para a empresa Bozzano, especializada em produtos de beleza. Ruben criou o famoso símbolo “b” da Bozzano. O próprio presidente da empresa, Lacé Brandão, certa vez me confessou: “Quando Ruben termi­nou a apresentação do novo símbolo eu lhe disse: Ou o senhor está me apresentando algo que é absoluta­mente revolucionário, ou está me enrolando muito bem!”

Nunca é demais lembrar que o bom relacionamento do designer com o cliente pode render excelentes resultados. Lacé Brandão acreditou que o trabalho de um profissional do design abriria novas oportuni­dades para a empresa e a Bozzano foi um cliente fiel por toda a década de 1960. Ruben atuou de forma diversificada não só na área do design – criando nomes e símbolos para produtos e embalagens – como também no campo da propaganda, onde criou anúncios e, até mesmo, filmes. Sua campanha para o per­fume Cinesina, por exemplo, revelou seu humor e versatilidade.

Ruben desenvolveu um novo con­ceito em design de embalagens que, mais tarde, explorou em outras áreas. Com coragem, eliminou todos os elementos desnecessários, preser­vando somente o nome do produto e a marca da empresa. Foi assim que ele tornou absolutamente inovadora a primeira linha de embalagens para produtos masculinos da Bozzano, algo inusitado para os padrões da época. De fato, não havia nada com­parável no mercado. Ruben também desenvolveu frascos de produtos como o famoso Pinho Campos do Jordão. Isso sem falar do frasco desenvolvido para o esmalte 1010 que está em uso até hoje!

Mas a “catequese” não se limitava apenas aos clientes. Ruben fez da Forminform um centro de estudos e de discussão sobre o design e a cultura brasileira como um todo. Simpático e carismático, em seu escritório sempre havia um grande número de estagiários que nunca se cansavam de relatar e elogiar a generosidade dele. Afeito a horários pouco comuns, Ruben fez da Forminform não apenas um ponto de encontro para bate-papos e de­bates entre profissionais de diversas áreas, mas transformou sua empresa num espaço para muita boemia. “Porreta” Ruben Martins!

 

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